Apraxia de Fala: Por que o tratamento precisa ser individualizado e nem sempre o PROMPT é a melhor abordagem
- Alessandra Santos

- 9 de dez.
- 3 min de leitura

É muito comum que pais e até mesmo outros profissionais de saúde busquem o que há de "melhor" ou "mais eficaz" para o tratamento da Apraxia de Fala na Infância (AFI) ou outros Transtornos Motores de Fala. E, muitas vezes, o método PROMPT surge como a única solução citada em encaminhamentos ou conversas.
Mas será que o PROMPT é a única ou a melhor abordagem para todas as crianças? A resposta, como quase tudo na Fonoaudiologia, é: depende!
Por que a fonoaudióloga é quem decide a abordagem?
A escolha da abordagem terapêutica é uma decisão clínica e individualizada, feita exclusivamente pelo fonoaudiólogo que acompanhará a criança. Não é um "pacote" pronto.
Essa decisão é baseada em fatores cruciais: o perfil sensorial da criança, suas habilidades motoras atuais e, principalmente, sua aceitação ao método. Uma criança que não aceita toque, por exemplo, não se beneficiará de uma abordagem que tem a pista tátil como pilar.
O PROMPT e outras abordagens essenciais
O PROMPT é uma excelente abordagem, mas ele é uma entre várias ferramentas valiosas que a Fonoaudiologia utiliza. É importante que os pais saibam que existem outras metodologias baseadas em evidências, tão eficazes quanto, e que podem ser mais adequadas dependendo do perfil da criança.
Veja um resumo das abordagens mais utilizadas para o Treinamento Motor da Fala:
Abordagem | Foco Principal | Modalidade de Pista | Quando pode ser indicada? |
PROMPT | Precisão dos Movimentos Articulatórios (Língua, Lábios, Maxilar). | Tátil-Cinestésica (Toque preciso no rosto). | Para crianças que aceitam toque e precisam de feedback sensorial intenso. |
DTTC | Precisão e Velocidade da Fala. | Tátil, Auditiva e Visual (Imitação intensiva e gradual de poucas palavras). | Para casos mais graves ou quando a criança precisa de foco máximo na repetição. |
ReST | Fluidez e Ritmo (Prosódia) da fala. | Auditiva e Visual (Prática intensiva de transição entre sílabas). | Para crianças que precisam melhorar o ritmo e o stress das palavras. |
Multigestos | Sequenciamento e Visualização do som. | Visual e Cinestésica (Gestos manuais que representam os sons). | Para crianças que aprendem melhor observando e imitando gestos. |
PlusHand | Aprendizagem motora e estimulação sensorial | Visual e Manual. | Para crianças que se beneficiam de apoios visuais e táteis na execução. |
Além do método: A Força das pistas combinadas
O tratamento para Apraxia não se resume a aplicar uma única técnica. Na verdade, o fonoaudiólogo trabalha com a combinação de diversas modalidades de pistas para ensinar o cérebro a planejar o movimento da fala:
Pistas táteis-cinestésicas: O uso do toque (foco principal do PROMPT).
Pistas visuais: O fonoaudiólogo demonstra os movimentos da boca, e gestos manuais (como no Multigestos e PlusHand) para ajudar a criança a observar e imitar.
Pistas auditivas: O terapeuta fornece modelos auditivos claros, ajustando o ritmo e a entonação da fala.
Pistas proprioceptivas: Estão relacionadas à percepção do próprio corpo no espaço e do movimento, sendo aprimoradas através da prática repetitiva e do feedback sensorial.
O tratamento para Apraxia é sempre individualizado, e a combinação e intensidade das pistas dependem das necessidades específicas de cada criança. O objetivo final é sempre reduzir a dependência dessas pistas à medida que o paciente desenvolve a capacidade de planejar e executar os movimentos da fala de forma autônoma.
Referências Bibliográficas e Conceituais
ASHA (American Speech-Language-Hearing Association):
Childhood Apraxia of Speech [Technical Report]. (Diretrizes e critérios de tratamento, enfatizando a necessidade de feedback e prática motora).
Duffy, J. R. (2013). Motor Speech Disorders: Substrates, Differential Diagnosis, and Management. St. Louis, MO: Elsevier Mosby. (Livro fundamental que discute a fisiopatologia e as abordagens de tratamento motor da fala, incluindo a individualização).
Hayden, D. A. (2006). The PROMPT system: a technique for repatterning speech production. In A. J. Caruso & E. A. Strand (Eds.), Clinical Management of Motor Speech Disorders in Children. New York: Thieme.
Strand, E. A., Stoeckel, R., & Baas, B. (2006). Treatment of severe childhood apraxia of speech: A targeted focus on movement accuracy. Journal of Medical Speech-Language Pathology, 14(4), 297–303. (Trabalho seminal sobre o método DTTC).
McAuliffe, M. J., & Murray, E. (2020). Treatment integrity and procedural fidelity in children’s speech disorders: An exploration of the ReST treatment protocol. International Journal of Speech-Language Pathology, 22(3), 333–346.
Abordagens Táteis/Visuais (Multigestos, PlusHand): O uso dessas estratégias se baseia na literatura sobre motor learning (aprendizado motor) e external cueing (pistas externas) em transtornos motores da fala, sendo incorporadas em diversos protocolos clínicos brasileiros e internacionais.
Se você recebeu um encaminhamento mencionando uma abordagem específica, converse com o fonoaudiólogo do seu filho. Ele é o profissional capacitado para decidir o melhor caminho terapêutico para a individualidade da criança, garantindo a eficácia e o conforto durante o tratamento.
Alessandra Santos | CRFa 3-11455-5
Fonoaudióloga Infantil
Pós-graduada em Distúrbios de Fala e Linguagem
Atendimento presencial em Curitiba e Online




